sábado, 9 de junho de 2012

Adaptar-se ao abstrato

Acostumar-se a tudo que chega de novo a nossas vidas nem sempre é fácil, nem sempre é prático e as vezes levamos muito tempo pra aceitar, já que algumas vezes não gostaríamos de novidades, muito menos de dificuldades.

Em anos marcados pela evolução brutal tecnológica e o nascimento de uma nova era para equipamentos eletrônicos, automaticamente a grande massa adapta-se visando vantagens. Porém, nada mais o fazem além de contribuir com uma necessidade criada por mentes sagazes e capitalistas, gerando uma necessidade falsa e criando uma dependência opcional e de certo modo viciante.

Adaptar-se é necessário. Mais do que esta imerso no dia a dia em sociedade, há um tipo de adaptação inexorável: a vida. Por histórico evolutivo o ser humano é obrigado a evoluir. Segundo teorias muito plausíveis e o passado da humanidade conhecido e incontestável através de fatos, essa obrigação vem motivada a uma grande necessidade de adaptar-se. Adaptar-se a necessidade de sobreviver, de obter vantagem, de progredir, de organizar-se e por consequência de qualidade de vida.

Se houve frio, o ser humano abrigou-se, migrou e vestiu-se adequadamente, da mesma maneira com altitude, calor e tantas condições adversas que nosso organismo esta adaptado.
Naturalmente toda nossa genética nos favorece em pról da adaptação que precisamos para conviver naquele local. Nosso cérebro interage com nosso sitema nervoso através de nossos neurotransmissores, e cada vez mais estudado, é nítido o poder que temos e ainda não temos a noção correta.

Certo! Continuaremos assim, adaptando-se. Mas, e em relação aos nossos sentimentos? Nosso cérebro é capaz de controlar o que diz ser sentido pelo coração? Será que podemos nos adaptar da mesma maneira com relação a grandes perdas, grandes emoções e sentimentos indefiníveis mesmo para pessoas com tão boa escrita e tão sensíveis? Pensando em relação ao cérebro, há possibilidade.

Existem neurotransmissores chaves para que haja amor, paixão e atração, tais como feniletilamina, endorfina, ocitocina, dopamina... dentre outros. Esses tais interagem através de situações rotineiras ou mostram destaque em cérebros de pessoas apaixonadas. Também são notórios em pessoas com depressão e ligados, claro que somados a tantos outros, com adrenalina e tantos estímulos e reações.

Esses dias pude acompanhar em um programa do History Channel uma história impressionante e, ao meu ver, triste também. Um homem que sofreu um acidente de trânsito e infelizmente perdeu uma parte importantíssima de seu sistema límbico, parte de nosso cérebro destinada aos sentimentos. Ele não consegue lembrar-se com emoção do passado, não demonstra emoção, nem fraqueza, nem alegria nem tristeza por não ter capacidade de sentí-las. Esse homem era casado, e com esse acidente, seu relacionamento tournou-se insuportável para o casal. Mesmo sendo uma pessoa amorosa e com boas lembranças do passado, o rapaz não conseguia sentir nenhum tipo de afeto nem atração pela mulher. Separaram-se, porém sua ex-mulher cuida do rapaz, o acompanha no tratamento vendo que, imagino eu, que esse homem precise realmente da ajuda dela e que ela, de certo modo, possa ainda  ser movida por algum sentimento ou talvez somente por respeito e se importar, ainda o faz. Com isso, estão sendo feitos estudos sobre esse rapaz e constatou-se que ele viverá assim, sem sentimentos.

Será que todos nós conseguiríamos nos adaptarmos de maneira satisfatória e vantajosa em uma vida sem sentimentos? Imagino eu que o sofrimento maior se deu para a mulher, pois ela enfrentou e imagino que, se amor sentira, ainda enfrenta e com sentimentos. Quem será que saiu no maior prejuízo nesse acidente entre o casal? Será que teríamos uma sociedade melhor se, como em um filme de ficção científica, todos os seres humanos deixassem de ter sentimentos todos de uma vez? Ou se metade de todos assim o perde-se? É de se refletir...

A história de que o amor sempre vence cai por tabela quando trata-se de neurociência, já que há estudos, complicados e pouco acessíveis ainda em português, de que ao bloquear o estímulo a certos neurotransmissores, gradativamente "o amor acaba". Mais do que compreensível o fato de que, 95% das pessoas que sei a opinião e vivenciei fatos relacionados, não suportam terem lembranças, conviver, falar ou ter qualquer tipo de contato com o "ex-amor". Poxa, mas ele para de ser estimulado, porém não morre? Esta é uma pergunta que nem os especialistas sabem responder com precisão ainda.

De certo modo, cada um tem uma maneira de lidar com sentimentos. Tenho pra mim que não funciona fugir, e sim encarar de frente. Vale a pena correr os riscos, vale a pena ter história pra contar, vale a pena fazer uma "loucura", vale a pena ter uma vida movida pelo que sentimos. Já que certamente, eu como um cara muito sentimental, a vida não teria a mesma graça pra mim. Se for pra ficar triste, se for pra chorar, se for pra se perder, se for pra ficar só, se for pra ser feliz, se for pra sempre sorrir... que seja, já que sou assim, já que não posso retirar parte do meu cérebro pra não sofrer, adapto-me aos sentimentos chatos e tento tirar proveito e curtir os sentimentos bons que conheço.


Sempre quando penso ter passado mais uma fase, superado mais uma dificuldade, percebo que ainda tem muito por vir. Quem me conhece sabe como minha vida mudou e das dificuldades que ainda enfrento. O pensamento positivista de "tudo vai dar certo" é realmente ilusório. Vejo como uma forma de motivar, de impulsionar os corpos e as mentes para que mantenham-se ocupadas. Como se motivação tivesse que partir sempre de algo positivo, como se todo sentimento fosse bom, como se nós mesmos tivessemos sido bons o tempo inteiro. Como se o fato de podermos compreender felicidade e tristeza já não fosse suficiente.